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18 outubro, 2025

O partido da moral e dos bons costumes

O Chega é aquele vizinho que passa a vida a gritar ordem e moral, mas que depois é apanhado de cuecas na varanda a discutir com a polícia. Quer "limpeza", "valores", "castração química" e "prisão perpétua" e jura que vem salvar Portugal dos maus. Só há um pequeno problema: metade dos maus parece ter cartão do partido.

O último capítulo da novela chama-se Nuno Pardal Ribeiro, ex-vice da distrital de Lisboa, acusado de prostituição de menores. Um crime consumado e outro tentado. Parece que a moral do Chega também tem uma versão experimental.

Sim, um dirigente de um partido que passa a vida a berrar "valores da família" foi acusado de pagar vinte euros (vinte!) a um rapaz de 15 anos para atos sexuais. Vinte euros! Nem dá para um jantar com sopa e sobremesa. E ainda quis repetir.

É o preço da nova moral portuguesa: vinte euros e um cartão de militante.

É o mesmo partido que promete "defender as nossas crianças", mas pelos vistos alguns membros acharam que "defender" era verbo com duplo sentido. Ventura devia estar a preparar o discurso sobre o Orçamento do Estado, mas vai ter de arranjar tempo para outro sobre "O estado dos nossos militantes".

Porque este não é caso único. Já tivemos um deputado apanhado a roubar malas no aeroporto (um patriota tão empenhado que queria trazer bagagem extra para o Parlamento). Outro a conduzir com uma bebedeira como co-piloto. Um acusado de agressão, outro de assédio… o Chega parece mais uma agência de recrutamento do Ministério Público que um partido político.

O Chega diz que quer "limpar Portugal". Pois devia começar pela própria sede. E levar lixívia industrial, porque sabão já não chega. A cada escândalo, Ventura expulsa mais um militante. Já parece uma máquina de lavar roupa da moral: entra sujo, sai suspenso. O problema é que a roupa volta sempre a aparecer no estendal e o cheiro não sai.

O partido que passa a vida a exigir prisão perpétua e castração química, de repente descobre a beleza do silêncio e do "deixemos a justiça funcionar". Um milagre: André Ventura, o homem que comenta tudo (até o que veste uma muçulmana), transformado em santo padroeiro do silêncio envergonhado.

Ainda há quem acredite que isto é o futuro de Portugal. Não é. É um remake da Idade Média, com mais microfones e menos vergonha. O Chega promete castração química, mas devia começar por uma coisa mais simples: um exame de consciência.

Porque enquanto houver quem use a palavra "valores" como se fosse um desodorizante, Portugal vai continuar a ter moralistas que pregam virtude de dia e fazem porcaria à noite.

No caso do Chega, já não há espelho que aguente. Partiu-se todo. E o reflexo que sobrou é este: um partido que queria limpar o país e acabou a afundar-se na própria espuma.

Comentador de Situações / Facebook