André Ventura voltou a provar que, quando o assunto é inventar o que não existe, ele é mestre. Ao ver o nome "Bürgerfest" (a tradicional Festa dos Cidadãos alemã) decidiu que aquilo só podia ser um festival de hambúrgueres. E zás: a habitual indignação instantânea nas redes sociais, com direito a vídeo e tudo, acusando Marcelo Rebelo de Sousa de ir à Alemanha comer carne picada à conta do contribuinte.
O problema é que "Bürger" não é "burger".
Mas quem tem pressa de se atirar ao microfone raramente perde dez segundos no Google Tradutor. Resultado: uma publicação a dizer que Marcelo ia a um "festival de hambúrgueres" e a pergunta de praxe: "Será que os portugueses não se revoltam?". Revoltaram-se, sim, mas contra Ventura.
Quando a realidade lhe bateu à porta, os posts desapareceram com a rapidez de um McMenu às duas da manhã. Nada de explicações, nada de desculpas. Fica a sensação de que o líder do Chega achou que um festival de cidadania era aborrecido demais para dar cliques, enquanto um churrasco presidencial soava muito mais apetitoso.
É irónico: quem vive de denunciar "enganos" do sistema tropeça num dos falsos amigos mais básicos do alemão. Talvez da próxima vez, em vez de incendiar as redes, Ventura consulte um dicionário. Ou arrisque outra gafe: confundir "Kindergarten" com jardim de ovos de chocolate, ou "Brötchen" com broa de milho. Até lá, continua a servir indignação malpassada, com molho de vergonha alheia e um toque generoso de ignorância.