É impossível atravessar uma estrada nacional sem topar com a mesma cena: um cartaz com um qualquer candidato local do Chega e, ao lado, o inevitável André Ventura. Aquele sorriso padrão, sempre igual, como se fosse uma embalagem de detergente em promoção. O detalhe? Ventura não é candidato a essas câmaras. Nem sequer a uma. Mas lá está, omnipresente, como se fosse o Santo António das autárquicas.
O truque é simples: se o povo não conhece os candidatos do Chega (e, sejamos honestos, na maioria dos casos não faz a mínima ideia de quem são) então mete-se o Ventura ao lado. É como vender um carro usado encostando um Ferrari para a fotografia. Tentam vender o Fiat Punto levando o cliente a pensar que o Ferrari está incluído no preço. E como, ao que consta, metade dos portugueses só compreende textos curtos, muitos lá acabam a comprar o chasso.
Esta táctica tem duas grandes vantagens:
1. Os candidatos locais não se sentem sós, porque têm uma selfie vitalícia com o chefe.
2. O eleitor médio já nem precisa de decorar nomes. Basta votar no partido do Ventura, mesmo que o cartaz diga "Joaquim das Couves".
É também uma forma de cortar custos em criatividade. Enquanto outros partidos gastam tempo a pôr os candidatos locais no centro da campanha, o Chega resolve tudo com Photoshop. "Não sabes quem é o nosso candidato a Baião? Não faz mal, tens aqui o Ventura, que é quase a mesma coisa."
A ironia é que Ventura passa mais tempo em outdoors do que em debates autárquicos. Mas convenhamos: para quê perder tempo a falar de saneamento, recolha do lixo ou buracos na estrada, quando se pode simplesmente pendurar a mesma cara em todo o lado e rezar para que o eleitorado confunda proximidade com fotocópia?
No fundo, a estratégia é clara: transformar cada autarquia numa franquia Ventura. Os cartazes não servem para apresentar candidatos. Servem apenas para relembrar que o Chega é Ventura e Ventura é o Chega.