A NOSSA DEMOCRACIA ESTÁ DOENTE! - Café da Praça Central

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29 outubro, 2025

A NOSSA DEMOCRACIA ESTÁ DOENTE!


A Democracia Portuguesa já está na fase adulta. Nasceu a 25 de abril de 1974 e trazia consigo todos os sonhos do mundo, como escreveu o poeta Fernando Pessoa. Portugal era, pois, um país cinzento, fechado ao mundo e confinado às ideias de um regime ditatorial que esteve no poder quase 50 anos.

A Democracia Portuguesa fez-se em valores e em novas fronteiras. Integramos a então CEE em 1986; passámos a ter acesso a fundos comunitários que mudariam para melhor a nossa vida, a educação, as estradas, as redes de comunicação, as escolas. Eu sou filha desta democracia e dessa escola gratuita e universal.

Uma das maiores conquistas para mim foi a criação de um serviço nacional de saúde que outros países elogiam mas que aqui tendemos em muito fazer para o destruir. É o SNS que permite o acesso de todos os portugueses a cuidados de saúde seja qual for a sua condição económica. Eu sou utente do SNS como milhões de portugueses.

As portas de Portugal reabriram-se a um mundo que mudava. A industrialização, após os anos 50 do século passado, exigia mais conhecimento científico que impulsionasse a produção e o desenvolvimento.  Investiu-se no ensino superior e na qualificação dos jovens. Nunca Portugal teve tantos e tão bons jovens qualificados. Eu sou filha desse Ensino Superior com o apoio social para os mais carenciados. No entanto, estamos a deixar partir os mais qualificados num país que os devia reter porque sem jovens não há futuro e porque nos 27 países da União Europeia, Portugal é o país com o segundo índice de envelhecimento mais alto (antecedido pela Itália).

Todos sabemos isso mas pouco se faz para estancar esses processos e a Democracia sente-se estranha num mundo global que cresceu rápido. Não consegue reter os seus e não sabe como receber novas gentes na sua casa. Culturas e povos diferentes que exigem uma educação intercultural e respeito pelos valores humanos e, naturalmente, direitos, regras e deveres, como a todos os portugueses, conforme consta na Constituição da República Portuguesa de 1976.

Depois a revolução digital com novas tecnologias de informação e comunicação que impactaram tudo. E agora a Inteligência Artificial. Uma revolução na educação, na saúde, na produção das empresas, na vida em comunidade. A Democracia nunca pensou chegar aqui assim tão rápido mas dá-se conta da tristeza em que vivem os seus cidadãos. Estes falam cada vez menos uns com os outros; os pais não têm tempo e o tempo que é dado aos pais para serem pais é limitado pelas obrigações laborais e de carreira que a sociedade competitiva nos foi impondo.

O meu avô ouvia-o dizer: " Neta, está-se a formar aí uma desgraça" E está mesmo porque a Democracia de Abril já não existe. A Democracia da liberdade (e não da libertinagem) que respeita o outro; a da solidariedade e respeito pelos direitos humanos fundamentais. A Democracia em que nos importamos uns com os outros.

A Democracia de Abril de 1974 não aceitaria o que grassa hoje pelas ruas e redes sociais com mensagens xenófobas e anti direitos humanos partilhadas em outdoors na via pública. E não podemos fingir que isso não acontece. Repugnam-me tais atos porque me vem à memória o meu querido e saudoso pai que foi emigrante mais de 25 anos na Suíça. E se fosse com o meu pai um dia emigrante? Dói só de pensar.

Urge fazer alguma coisa para que a Democracia Portuguesa de hoje possa reerguer-se e afirmar o que tanto custou a conquistar às gerações anteriores.

Enganam-se os que pensam que isto são fases de uma conjuntura que ha-de passar.   Estamos a ver apenas a ponta do iceberg. Por baixo dele, um mundo obscuro onde estamos a cair.

@destacar
foto: google

28 out. 2025