Desaparecida há cerca de sete séculos a espada do rei D. Dinis foi agora retirada do seu túmulo no Mosteiro de Odivelas para ser restaurada e estudada por uma equipa coordenada pela Direcção-Geral do património Cultural.
O túmulo de D. Dinis e do Infante de Portugal encontram-se ambos na Igreja do Mosteiro de Odivelas, o primeiro na abside esquerda, o segundo na abside direita. Mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo foi fundado no ano de 1295 em Odivelas pelo rei D. Dinis (r. 1279-1325).
O Mosteiro de S. Dinis em Odivelas e Igreja Matriz - classificados como Monumento Nacional, por Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136, de 23-06-1910, dispõem de uma ZEP - Zona Especial de Proteção - por Portaria nº 629/2013, de 20 de novembro.
Com a extinção das Ordens Religiosas o convento passa a ser propriedade do Estado em finais do século. XIX. Entre 1900 e 2015 funcionou neste monumento o Instituto de Odivelas, escola destinada a filhas de militares e em 2019 o Exército assinou um contrato de cedência do edíficio, por 50 anos, com a Câmara Municipal de Odivelas.
Em 2016, iniciou-se a "Intervenção conservativa e prospetiva", a primeira aproximação ao túmulo para identificar os materiais constituintes, as técnicas de execução e as diferentes intervenções de restauro ao longo dos tempos, com o objetivo de realizar de um diagnóstico que permitisse definir os tratamentos e metodologias adequados para uma intervenção de conservação e restauro integral. Financiamento foi totalmente assumido pela DGPC, foi adjudicada à empresa K4 Gestão de Património Lda, tendo decorrido entre 23 de Novembro e 28 de Dezembro
Na sequência dos trabalhos de registo orto-fotogramétrico, limpeza superficial e consolidação, foi elaborado um diagnóstico que identificou os materiais e principais patologias, tendo revelado elementos suficientes para aprofundar na conservação e restauro dos dois túmulos numa seguinte fase.
Através da introdução de endoscópio por uma falha nos pés do jacente, foram identificados restos osteológicos humanos e restos de tecido, misturados com materiais procedentes de obras contemporâneas (entulho, cimento, folhas, madeira, tijolo). As sondagens revelaram a possibilidade de abertura removendo o cimento que selava a tampa por procedimentos manuais.
Foi ainda identificado o mau estado de conservação das coberturas e paramentos da capela, obrigando a obras de conservação no edifício
Em 2017 iniciou-se a "Intervenção de conservação e restauro-túmulo D. Dinis" através duma Candidatura da Câmara Municipal de Odivelas ao Programa Operacional Regional de Lisboa 2020
Esta candidatura visava a recuperação de coberturas, vãos (vitrais), paramentos exteriores e interiores (pedra e pintura mural) da capela-mor e absidíolos; a conservação e restauro dos túmulos-elementos pétreos e policromias; a limpeza e registo arqueológico., o estudo bioantropológico; o estudo e conservação dos têxteis; Assim como o registo fotográfico e videográfico de todo o processo com produção de documentário; a divulgação do processo de conservação e restauro dos túmulos; a edição de publicação relativa à investigação histórica em torno das arcas tumulares e a modelação Tridimensional dos Túmulos.
Fora do âmbito da candidatura ficou a exumação e musealização do espólio e a conservação preventiva após fecho do túmulo.
Através duma abordagem metodológica de articulação arqueo-antro-conservação em intensa parceria entre os técnicos da DGPC e os técnicos da Câmara Municipal de Odivelas, a abertura do Túmulo permitiu encontrar um contexto perturbado.
Procedeu-se ao levantamento dos restos desarticulados (os restos articulados foram deixados in situ de forma a não destruir o restante espólio), do espólio intrusivo (gesso, tijolo, madeira, insectos, plantas, jornal 1939, cordas) e foi feito o registo fotográfico.
Relativamente aos restos humanos, procedeu-se à análise bioantropológica; datação, análise de DNA; reconstrução facial; toxicologia e paleodietas.
Através da inspeção radiográfica foi identificada uma espada que apesar de ter a ponteira destacada, se encontrava em relativamente bom estado de conservação.
Perante esta importante descoberta foram equacionados diversos cenários relativamente à permanência ou levantamento da espada, tendo em atenção as preocupações com a segurança; a manutenção da integridade do contexto funerário e o cumprimento dos prazos dos trabalhos, estando prevista como medida de conservação preventiva, a desinfestação por anóxia e a instalação duma câmara de monitorização.
A necessidade de ponderação quanto ao desenvolvimento do projeto, contribui para o atraso no encerramento do túmulo, tendo a DGPC colaborado no pedido de reprogramação da candidatura. A pedido da Câmara Municipal de Odivelas, para que a Igreja pudesse ser aberta ao culto, a DGPC autorizou a construção de uma estrutura temporária de proteção do espaço da intervenção. A relação entre as duas instituições pautou-se sempre pelo diálogo e boa colaboração.
Depois de analisados os relatórios sobre esta questão das diferentes equipas envolvidas, e da questão ter sido levada à SPAA e SMUCRI, foi decidido, pela Direção da DGPC, o levantamento integral do espólio do interior do túmulo.