Quando andei na faculdade, tive como professor de Sociologia Moisés Espírito Santo. Decerto não foi de propósito, mas os pais ou padrinhos que tal nome lhe deram acertaram em cheio, tendo em conta o seu percurso posterior de investigação. Moisés Espírito Santo, hoje Professor Catedrático Jubilado da Universidade Nova de Lisboa, é também sociólogo, etnógrafo e etnólogo. Uma das suas áreas de especialidade é a Sociologia das Religiões. O único dos seus livros que li - e que guardo religiosamente - é «Religião Popular Portuguesa», editado em 1988. É um livro que descontrói muitas das ideias feitas que o Catolicismo nos tentou passar, demonstrando que a religião popular, ou seja, a das pessoas, a que elas verdadeiramente praticam, tem muito a ver com raízes bem mais antigas que o Cristianismo, raízes a que depois se chamaria pagãs. A veneração das imagens de santos, de santas, de Nossa Senhora, de Cristo, a quem são atribuídas propriedades curativas e milagreiras, as oferendas, as promessas, os ex-votos, os locais onde se erguem alguns dos mais antigos templos católicos portugueses, explica Moisés Espírito Santo, são práticas que têm a ver com tempos muito remotos, anteriores ao Cristianismo. Claro que estou aqui a resumir, porventura de forma abusiva e simplista, as teses que o sociólogo defendeu em várias obras. Mas foi isto que eu retive da leitura daquele extraordinário livro. Vem tudo isto a propósito da Festa Grande da Mãe Soberana, em Loulé, que amanhã terá lugar, mais uma vez. O ponto alto é a subida, em esforço, com a imagem da santa num andor pesado, da ladeira que leva à ermida de Nossa Senhora da Piedade (ou Mãe Soberana, como o povo a batizou), situada no topo de um monte cónico do qual se avista tudo em volta. Não quero desrespeitar a fé e os sentimentos religiosos de ninguém, mas tudo isto remete para uma dimensão sacrificial que é bem mais remota, mais enraizada em práticas antigas, mais ancestral. Pagã, no bom sentido da palavra. Talvez por isso a Mãe Soberana continua a atrair multidões. Talvez por isso, os Homens do Andor continuam a sacrificar-se por transportá-la ladeira acima. É digno de se ver! Que a Mãe Soberana continua nos corações dos algarvios, em geral, e dos louletanos, em particular, atesta o mural que esteve a ser pintado, com bastante mestria, numa imensa parede em Loulé. O Pedro Lemos foi até lá, falou com o artista, e mostra aqui não só o resultado dessa conversa, como as imagens da obra. Mudando de assunto e de região: quando se pensa em Alentejo, a primeira coisa que nos vem à cabeça não é, muito provavelmente, uma praia.
Mas o certo é que no Alentejo há muitas praias, não só na sua vasta e bela costa atlântica, mas até - imagine-se! - no seu interior. Confuso? Leia aqui a peça da Mariana Carriço sobre a atribuição de Bandeiras Azuis às zonas balneares alentejanas. Quanto ao Algarve, pelo contrário, é normal pensar-se em praias. Também ontem demos conta de quantas Bandeiras Azuis a região recebeu. E há novidades, nem todas boas. Por falar em praias, uma notícia algo insólita: a filha de António Guterres - esse mesmo, o secretário-geral da ONU! - caiu numa arriba de uma praia do concelho de Vila do Bispo e teve de ser transportada para o hospital. Se não fosse filha de quem é, este seria apenas mais um caso de uma turista acidentada... Entretanto, por estes dias e até ao próximo fim de semana, está a decorrer a Semana Académica do Algarve, em Faro. O Sul Informação, que é media partner de mais esta SA, vai dando aqui conta do que se vai passar em cada dia, assim como também publica, todos os dias, a galeria fotográfica com as imagens da noite anterior. E, no nosso Instagram, estamos a promover um passatempo para oferecer bilhetes. A terminar esta newsletter, que já vai um bocadinho longa, deixo uma boa notícia: a pesca da sardinha vai reabrir na próxima segunda-feira. Ou seja, depois de abrir a época de comer caracóis (tradicionalmente, no Algarve, é amanhã, 1º de Maio, que se come os primeiros caracóis), a partir da próxima semana já poderemos também começar a comer as primeiras sardinhas!
Boas pescarias...e bom proveito! |