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13 dezembro, 2024

A abertura de portas das prisões políticas sírias, trouxe luz a décadas de tortura e morte


Edição por Ana Maria Pimentel


As constantes repressões dos direitos humanos pelo regime sírio, que caiu no domingo, não eram surpresa para ninguém. Mas à medida que as portas das prisões vão sendo abertas e que os pais gritam o nome dos filhos levados, a dor passa a ter caras e nomes. O sofrimento é visível, literalmente, na pele que cobre os ossos daqueles que viveram os últimos anos nas mãos dos seus bárbaros carcereiros.


O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) estimou em 2022 que mais de 100 mil pessoas tenham morrido em prisões sírias desde o início da guerra no país em 2011, desencadeada pela dura repressão às manifestações pró-democracia. A maioria dos presos morreu na sequência de sessões de tortura, indicou o órgão com sede no Reino Unido, que possui uma vasta rede de informantes na Síria.


O OSDH também informou que cerca de 30 mil pessoas foram detidas na prisão de Saydnaya, localizada a cerca de 30 quilómetros de Damasco e sinónimo das piores atrocidades cometidas pelo governo. Deste número, apenas 6 mil foram libertados. A Amnistia Internacional contabilizou milhares de execuções no local e denunciou "uma verdadeira política de extermínio" em Saydnaya, que classifica como "matadouro humano".

Agora, socorristas sírios pedem ajuda da ONU para encontrar "prisões secretas".


Ficarão as prisões livres durante muito tempo?

Os líderes do G7 garantiram hoje que apoiarão "plenamente" um futuro governo sírio, desde que o processo de transição na sequência do derrube do regime de Bashar al-Assad seja no sentido de "uma governação credível, inclusiva e não sectária".


Apelaram ainda a todas as partes "para que preservem a integridade territorial e a unidade nacional da Síria e respeitem a sua independência e soberania", os líderes do grupo que reúne as sete democracias mais industrializadas do mundo dizem-se "prontos a apoiar um processo de transição neste quadro que conduza a uma governação credível, inclusiva e não sectária, que garanta o respeito pelo Estado de direito, os direitos humanos universais, incluindo os direitos das mulheres, a proteção de todos os sírios, incluindo as minorias religiosas e étnicas, a transparência e a responsabilização".


Os novos dirigentes da Síria tentam tranquilizar comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, cujo chefe da diplomacia viajou esta quinta-feira à Jordânia para pedir uma transição "inclusiva". Para acalmar os medos, o primeiro-ministro sírio, Mohamad al-Bashir, nomeado até um de março, tentou enviar uma mensagem tranquilizadora.

"Garantiremos os direitos de toda a população e de todas as religiões na Síria", prometeu o dirigente, numa entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera publicada na quarta-feira.

Contudo, o HTS alega que rompeu com o jihadismo, mas continua na lista de organizações "terroristas" de vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.


Ontem, o novo governo anunciou que vai congelar a Constituição e o Parlamento durante o período de transição, a princípio de três meses.

"Um comité jurídico e de direitos humanos será formado para examinar a Constituição e introduzir emendas", explicou à AFP o porta-voz de Assuntos Políticos das novas autoridades sírias, Obaida Arnaut.


Uma nação de fugidos com medo de regressar, mas espectantes pelo regresso 

Bashir pediu aos milhões de sírios no exílio que regressem para "reconstruir" o país, de maioria árabe sunita, mas onde convivem diversas comunidades étnicas e religiosas.


Quase seis milhões de sírios, ou seja, um quarto da população, fugiram do país desde 2011, quando a repressão violenta dos protestos pró-democracia resultou numa guerra que deixou mais de 500.000 mortos.

Duzentas pessoas reuniram-se ontem no posto fronteiriço turco de Cilvegözü, a quase 50 km de Aleppo, para entrar na Síria, segundo um policia entrevistado pela AFP.


Na principal fronteira entre o Líbano e a Síria, vagas de refugiados sírios regressam ao seu país acabado de se libertar da tirania de Bashar al-Assad, mas, também, no sentido inverso, centenas de pessoas acumulam-se em fuga da incerteza.


*Com agências