O Núcleo de Valores Imprescindível - Café da Praça Central

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20 novembro, 2024

O Núcleo de Valores Imprescindível

"Não faltará quem [no PS] sobressaltado pelo avançar da direita mais reaccionária, venha sugerir uma "atualização" de princípios, cedendo à agenda dela".

Escrevi, na última edição impressa do Ação Socialista, um artigo intitulado "Uma Questão de Independência Política", no qual partilhava a minha preocupação sobre a possibilidade de infiltração no PS de um certo discurso reaccionário, a par do que se tem vindo a verificar noutros partidos social-democratas europeus. A tese era a de que esta cedência no plano dos princípios levaria no longo prazo à erosão do PS e dos seus congéneres, ainda que circunstancialmente pudesse ter alguma aderência em determinados setores e contextos.

A morte de Odair Moniz e as manifestações e protestos, pacíficos e violentos, que se desenrolaram nas semanas seguintes, precipitaram algumas tomadas de posição securitárias por parte de dirigentes e autarcas do Partido Socialista, que logo chocaram com tomadas de posição em sentido contrário, nomeadamente a do artigo de António Costa, José Leitão e Pedro Silva Pereira em defesa da honra, dos valores, da identidade e da cultura do PS. Não foi nenhum texto premonitório, o meu. Quem conhece bem o Partido, sabe que existe campo fértil, em particular no PS autárquico, para a disseminação de um certo discurso securitário, mesmo que economicamente à esquerda.

O Partido Socialista é orgulhosamente um partido plural e abrangente, representativo das diversas realidades e sensibilidades do país. Mas no PS não pode caber tudo e no PS não podem haver hesitações em matéria de direitos humanos e de Estado de Direito Democrático. Há um núcleo de valores imprescindível, o dos direitos, liberdades e garantias.

Não nos podemos esquecer que o propósito da extrema-direita é mesmo colocar em causa estes valores, que não dizem apenas respeito ao PS, mas a todos os que defendam uma sociedade humanista, evoluída e democrática. Um dos desígnios da extrema-direita é mesmo o de levar os democratas a cair na tentação de ceder a pressões autoritárias.

O PS não pode deixar este núcleo de valores imprescindível sem defesa e sem defensores, sob o risco de se descaracterizar e deixar de ser a casa de liberdade e humanismo que sempre foi. Não o pode permitir sob o risco de perder o seu espaço político e a sua independência política. 

Diogo Vintém