Ana Passos quer dar a palavra aos militantes do PS Faro sobre a escolha do candidato à Câmara Municipal em 2025. Concelhia não compreende a exigência, pois não respeita os estatutos e decorre um processo democrático que a mesma aprovou.
Ana Passos, ex-deputada e ex-líder das Mulheres Socialistas do Algarve, quer que sejam todos os militantes do Partido Socialista (PS) Faro, «sem exceção», a decidir quem deve ser candidato a presidente da Câmara Municipal de Faro nas próximas eleições autárquicas de 2025.
Em nota enviada hoje às redações, Ana Passos afirma que «é público que existem dois candidatos a candidatos, eu própria e o meu camarada António Miguel Pina», atual autarca de Olhão, que finda três mandatos naquela edilidade.
Passos quer que a escolha do candidato socialista a Faro seja «um processo transparente, uma escolha dos militantes, como a que já foi feita anteriormente, em 2014, com sucesso, entre António Costa e António José Seguro», e afirma que «quer ser a candidata do PS, mas quero ser a candidata dos militantes do PS e não de um pequeno grupo que toma decisões em segredo».
Por esse motivo «enviei um requerimento à presidente do PS Faro, Tatiana Homem de Gouveia, e dei conhecimento dessa iniciativa a todos os militantes para que seja convocada uma Assembleia Geral de Militantes, a concretizar-se em novembro, e cujo principal ponto a deliberar seja a decisão da eleição direta da(o) candidata(o) a presidente da Câmara, a decorrer a 20 de dezembro e cujo prazo para apresentação de candidaturas seja a 29 de novembro».
«Faro é muito importante para o PS. Sabemos o que António Miguel Pina fez em Olhão. Mas não sabemos o que quer para Faro. E como o PS dizia há uns bons anos: Faro é Faro. Como o poderemos escolher para candidato sem conhecer uma ideia, uma visão? Ele tem de certeza, mas temos o direito e o dever de conhecê-la. A minha visão tem sido veiculada enquanto deputada municipal e, mais recentemente, enquanto candidata a candidata. Importa que os militantes comparem a minha visão com a dele e escolham a melhor. Quero debater essas ideias com o outro candidato a candidato. Se for ele o escolhido, cá estamos para o apoiar», lê-se na nota.
Ana Passos acrescenta ainda que «todos sabem que a minha convicção é PS, e que apoiarei sempre o PS, mas a minha alma é farense. Que ninguém me leve a mal, estou a lutar pela minha cidade, pelo meu concelho. Respeito todos, mas devo respeito a mim mesma», conclui.
Concelhia «não tem explicação» para afirmações e exigências de Ana Passos
Ouvida pelo barlavento, a presidente da Comissão Política de Concelhia do PS, Tatiana Homem de Gouveia, afirma desconhecer quais os objetivos da posição pública de Ana Passos, que parecem refletir «motivações pessoais».
Em relação ao processo de escolha de candidatos autárquicos, Homem de Gouveia volta a esclarecer que, segundo os estatutos do PS, «essa competência é exclusiva da Comissão Política de Concelhia».
Acrescenta ainda que a figura da Assembleia de Militantes, sugerida por Ana Passos, «não consta nos estatutos do PS desde 2018».
«Foi retirada, portanto, não existe», reforça, sublinhando que o seu papel, enquanto presidente do PS Faro, é garantir o cumprimento dos estatutos.
A presidente explica ainda que, numa reunião a 11 de outubro, foi aprovada, por unanimidade, a estratégia para a escolha de um candidato às eleições autárquicas de 2025.
É «uma estratégia democrática de criar uma comissão técnica eleitoral para ouvir os autárquicos eleitos pelo PS e também para ouvir todos os militantes base que entendam querer falar. Depois desta audição, competirá ao secretariado apresentar à Comissão Política a proposta do nome do candidato», processo que está a decorrer «com normalidade».
Agora, este comunicado de Ana Passos, «apanha toda a concelhia de surpresa e vai contra uma deliberação que ela própria aprovou» como membro efetivo da direção da estrutura local.
Questionada sobre a acusação de existência de um «pequeno grupo que toma decisões em segredo», Tatiana Homem de Gouveia sugere que «talvez Ana Passos se esteja a referir ao secretariado que é o órgão executivo» responsável por apresentar as propostas para decisão da Comissão Política de Concelhia.
A presidente esclarece ainda que os dois nomes mencionados para a Câmara Municipal de Faro foram discutidos de forma aberta, incluindo o de António Miguel Pina, o qual defende desde que foi eleita para o cargo.
Contudo, «foi explicado e sufragado que o nome da Ana Passos seria tomado em consideração quando ouvíssemos os militantes […] se há coisa que não temos medo é da democracia», ressalta.
Em relação ao apelo à rivalidade entre Faro e Olhão, expressa no apelo à «alma farense» evocada por Ana Passos, Homem de Gouveia rejeita o termo, considerando-o «provincianismo» e questionando a sua relevância numa sociedade atual e globalizada.
«Não parece, de todo, aceitável que, em pleno século XXI, esse argumento possa colher apoio junto dos munícipes farenses. Quantos munícipes farenses vivem na cidade de Faro que não são de Faro? Será que os lisboetas, ou os munícipes de Lisboa, tiveram a preocupação com o facto de Carlos Moedas de Beja? Temos um membro do secretariado, militante do PS Faro, que é de Braga. Será que isso o torna menos que um farense? Não sou capaz de ter essa visão sobre a política», afirma, criticando o que vê como um argumento ultrapassado.
«Acho que uma candidatura autárquica não pode, de forma alguma, estar baseada na certidão de nascimento. Uma candidatura autárquica séria à capital de distrito do Algarve tem de estar baseada em experiência, em mérito, em visão e em competência», afirma, referindo-se a António Miguel Pina.
Sobre uma possível sanção disciplinar a Ana Passos, através do Conselho Jurisdicional do PS, a presidente da concelhia farense opta por não comentar e prefere resolver os diferendos internamente, mas deixa no ar uma pergunta: «quais são as suas intenções de causar ruído? O que está por detrás desta tentativa de causar instabilidade, quando a Comissão Política tomou as suas decisões?»
Em suma, esta «pressão que está a fazer sobre os órgãos do PS parece-me absolutamente contraproducente na designação do candidato
autárquico, que é calma, tranquilidade e ouvir os camaradas e ouvir a vontade da militância».
António Miguel Pina está à frente da Câmara de Olhão desde 2013, ano em que venceu o primeiro de três mandatos para a presidência da autarquia, mas não pode voltar a candidatar-se ao lugar devido à lei da limitação dos mandatos autárquicos.
As eleições autárquicas de 2025 serão realizadas em setembro ou outubro, numa data ainda a definir, estando em causa a eleição de 308 presidentes de câmaras municipais, os seus vereadores e assembleias municipais, bem como as 3.091 assembleias de freguesia.
Tatiana Gouveia já tinha assegurado que António Miguel Pina é o «único nome que gera consensos e não gera problemas» como candidato do PS à Câmara Municipal de Faro, tal como o barlavento noticiou.