O currículo e o cadastro - Café da Praça Central

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02 setembro, 2024

O currículo e o cadastro

Escapar impune não é sorte, é desígnio de quem tem poder.
Montenegro escolheu Maria Luís Albuquerque para a Comissão Europeia. É um dos lugares de serviço público mais bem remunerados que a política portuguesa pode oferecer. Tendo em conta as possibilidades de escolha, a antiga ministra das Finanças não é má opção. A esquerda critica Maria Luís pela sua associação à austeridade da troika, mas se há currículo de que ela se pode orgulhar é o de ter sido a ministra das Finanças durante a saída limpa do doloroso resgate. É certo que não se conhece muito sobre o que pensa da UE. Aliás, em termos de pensamento político, de Maria Luís pouco mais se sabe do que a doutrina financeira. Mas mais importante neste País do que ser ministro das Finanças é ter sido ministro. A rede de contactos permitiu-lhe ter uma carreira mais rentável, mesmo com escolhas polémicas como o trabalho com a Arrow.

O conhecimento travado com Passos Coelho, de quem foi professora, foi determinante na sua carreira. Um momento de sorte, porque antes, como diretora financeira da Refer, está associada a um caso que custou milhões aos contribuintes, os famigerados contratos 'swap'. Esses contratos escandalosos, em que o Estado foi tão lesado, não tiveram gestores responsabilizados. Maria Luís é uma dessas pessoas envolvidas. E esse é o cadastro político que conseguiu driblar. Mas num país em que a culpa costuma morrer solteira, escapar impune não é sorte, é desígnio de quem tem poder.