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31 março, 2023

Projeto português quer combater o “flagelo” da desertificação no Baixo Alentejo

No Alentejo, especialmente na região sudeste, a desertificação dos solos avança sem dar tréguas. Práticas agrícolas e pastoris desadequadas têm, ao longo de várias décadas, roubado a terra da matéria orgânica que lhe dá a vida de que dependem inúmeras formas de vida, desde pequenos microrganismos, aos fungos, às plantas e árvores, até às aves e aos grandes mamíferos, incluindo nós, humanos.

O Baixo Alentejo é considerado uma zona semiárida, um tipo de área climática que se caracteriza, sobretudo, por chuvas irregulares e de elevada sazonalidade, por uma maior evaporação face à precipitação e por uma fraca densidade vegetal. Somados todos esses fatores, torna-se particularmente vulnerável à erosão do solo e à consequente desertificação, principalmente se for sofrer sobre-exploração.

A desertificação é o culminar de um processo de degradação físico-química e de erosão do solo, através do qual a sua camada orgânica, aquilo permite que a terra dê frutos e suporte vida, desaparece, expondo o leito rochoso, aquilo que é conhecido como a 'rocha-mãe'. Quando isso acontece, o solo, para todos os efeitos, está morto.

Atualmente, estima-se que perto de 94% do Baixo Alentejo seja suscetível à desertificação, sendo que em Mértola, na margem esquerda do Rio Guadiana, essa vulnerabilidade chega mesmo aos 96%, de acordo com especialistas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova de Lisboa, que integram uma equipa que coordena o Centro Experimental de Erosão de Solos da Herdade de Vale Formoso.

Para combater a desertificação nessa região do país, onde predomina o sistema ecológico do montado, especialmente povoado por azinheiras e sobreiros, nasceu o projeto REA Alentejo, promovido pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), em parceria com a FCSH, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), a Câmara Municipal de Barrancos e a Junta de Freguesia da Cabeça Gorda.

Cobrindo uma área de 13 concelhos alentejanos, com um total de 81,1 hectares, em que 38% do território abrangido apresenta uma suscetibilidade crítica à desertificação, 35% muito elevada e 21% elevada, a iniciativa, nas palavras da sua coordenadora Maria Bastidas, pretende "implementar ações de combate à desertificação e restauro dos habitats de Montado em áreas de especial interesse de proteção", como o Parque Natural do Vale do Guadiana e áreas da Reserva Ecológica Nacional.

María Bastidas, coordenadora do REA Alentejo
Foto: REA Alentejo / Facebook

"A desertificação e as alterações climáticas são uma realidade cada vez mais presente", salienta a responsável, para quem o REA Alentejo "permite demonstrar metodologias de restauro da produtividade agrícola e florestal nas zonas semiáridas do sudeste de Portugal, potenciar uma melhoria da saúde do solo, do funcionamento dos ecossistemas e, consequentemente, da qualidade de vida das comunidades rurais".

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