Olá, bom dia! Muitas décadas antes da invenção do Facebook, do Twitter, do Instagram, do TikTok e de mil e uma outras coisas semelhantes, a que hoje chamamos redes sociais, já havia...redes sociais. Só que eram sobretudo redes que se criavam cara a cara, resultantes da interação direta e presencial (como hoje também se diz...) entre pessoas. A taberna da aldeia, onde os homens afogavam as mágoas num copo de três, mas também comentavam as agruras dos patrões que os maltratavam; o tanque onde as mulheres se encontravam para lavar a roupa...e dar à língua sobre a vida dos outros e os acontecimentos da terra; a ida semanal à missa, quando, à porta da igreja, se trocava informações e novidades; os salões de cabeleireiras ou barbeiros; e os cafés. Todos esses são exemplos de locais que serviam como redes sociais em tempos mais antigos. Nos cafés portugueses, reuniam-se sobretudo os homens. Políticos de várias cores, intelectuais, professores, juristas, padres, empresários mais ou menos abastados, todos gostavam de se juntar nos cafés para, entre uma aguardente, um brandy e uma fumegante chávena do dito cujo, trocar ideias, debater pontos de vista e saber as novidades mais fresquinhas. Muitas revoltas, muitas conspirações, muitos golpes, muitos negócios, foram decididos ou, pelo menos, sonhados, à volta de uma mesa de café. Não é à toa que, nos tempos da ditadura salazarenta, os cafés de todo o país, desde as cidades grandes às vilas da província, eram dos locais mais vigiados pelos esbirros do regime. Entre os cafés mais conhecidos do país, temos a Brasileira, de Lisboa, onde Pessoa e tantos outros artistas e intelectuais estiveram, ou o Majestic, no Porto. Hoje pouco mais são que chamarizes de turistas, mas não deixam de ter atrás de si uma aura de espaços de cidadania e de troca intensa de ideias. No Algarve, também havia cafés destes. Façam um esforço de memória e cada um de nós irá recordar-se, na sua terra, de um espaço assim. Infelizmente, na voracidade imobiliária dos anos 80 e 90, muitos desses cafés foram transformados em dependências bancárias ou restaurantes de fast food, demolidos para dar lugar a prédios novos ou mesmo, simplesmente, fechados à espera da melhor oferta. Em Loulé, havia um desses cafés, o Calcinha, onde parava António Aleixo, a vender cautelas aos intelectuais, políticos e empresários da terra, acompanhando-as de umas quadras certeiras. O Calcinha esteve moribundo até que acabou por fechar. Mas a Câmara Municipal louletana, ciente do simbolismo daquele espaço situado na sua rua principal, comprou o café, fez-lhe obras para o adaptar aos tempos atuais, embora mantendo e até recuperando aquele charme antigo. Depois, porque não é a uma Câmara que cabe gerir um café, abriu concurso para concessionar a sua exploração. Mas com uma condição: que o Café Calcinha mantivesse ao mesmo tempo uma programação cultural de acordo com os seus pergaminhos. Durante algum tempo, as coisas correram bem, quem ficou com a concessão foram jovens empresários louletanos. Mas depois veio a pandemia. E o Calcinha voltou a fechar. Depois de longos meses de portas encerradas, após dois concursos para concessionar o espaço, parece que há, finalmente, fumo branco e que o histórico Calcinha vai voltar a abrir. O Pedro Lemos conta aqui como será. No Alentejo, é também de tradição que se fala, mas a outro nível. Na vila de Alvito, está de volta a feira tradicional, com programa reforçado por inúmeras atividades paralelas e por espetáculos com nomes da moda. Mas o mais importante continua a ser a feira, onde tudo se compra e se vende, onde se pode comer uma fartura ou dar uma voltinha no carrocel e na roda gigante. De ontem, ficaram-nos algumas notícias que cabe aqui recordar: em Lagos, abriu o período de discussão pública das alterações ao seu Plano Diretor Municipal. E ninguém se pode queixar de que não pode participar, porque há muitas e variadas formas de o fazer, como explicamos aqui. Em Faro, esteve ontem o ministro da Administração Interna, que disse aquelas coisas que até estão certas, mas não soam bem a muitos ouvidos, em especial a quem sofreu (e continua a sofrer...) com os incêndios, de Silves e do Ludo/Quinta do Lago. Leia aqui o que o ministro José Luís Carneiro disse, pela pena do meu camarada Hugo Rodrigues. Muita coisa haveria ainda para trazer aqui, de tudo o que ontem o Sul Informação noticiou. Mas a newsletter já vai longa, por isso termino apenas com esta notícia: Pilar del Rio vai estar em Querença no sábado, para falar sobre Saramago e dar uma aula livre. É um bom programa de Outono, não acha? Mesmo para fechar, faço a pergunta que tenho vindo a fazer nestes últimos dias: já comprou e leu a nossa revista DOIS? Está à venda em todo o Algarve (se já esgotou num determinado ponto de venda, peça para mandarem vir mais...), em Lisboa e arredores, no Porto e arredores. Ainda ontem um leitor nos enviou uma foto da DOIS comprada na zona da avenida dos Aliados, no Porto, enquanto outro partilhou connosco a foto da compra no El Corte Inglés, em Lisboa.
Por falar em revista DOIS, aqui fica mais uma imagem da nossa campanha de marketing, saída da imaginação do meu colega Nuno Costa. Esta é só para quem tem sentido de humor... |